sexta-feira, 23 de outubro de 2015

As Bem Aventuranças

Extracto do Livro O Maior Discurso de Cristo - Ellen G. White
Capítulo 2: As Bem-aventuranças – páginas 6-44



“E Ele passou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos Céus” (Mateus 5:2 e 3).
 Como um ensino estranho e novo, estas palavras caem nos ouvidos da multidão admirada. Semelhante doutrina é contrária a tudo que ouviram dos sacerdotes e rabinos. Nela não veem coisa alguma que lisonjeie seu orgulho ou lhes alimente as ambiciosas esperanças. Irradia, porém, deste novo Mestre um poder que os conserva como que presos. Dir-se-ia que a doçura do amor divino transcendesse de Sua presença, como da flor o perfume. Suas palavras caem “como a chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra” (Salmos 72:6). Todos sentem instintivamente que existe um Ser capaz de ler os segredos da alma, e não obstante, deles Se aproxima com terna compaixão. Os corações a Ele se abrem e, à medida que O escutam, o Espírito Santo lhes desdobra alguma coisa do significado daquela lição de que a humanidade de todas as épocas carece.
 Nos dias de Cristo os guias religiosos do povo julgavam-se ricos em tesouros espirituais. A oração do fariseu: “Ó Deus, graças Te dou, porque não sou como os demais homens” (Lucas 18:11), exprimia os sentimentos de sua classe e, em grande parte, da nação inteira. Mas na multidão que cercava Jesus, alguns havia que tinham a intuição de sua pobreza espiritual. Quando, na pesca miraculosa, se revelou o poder de Cristo, Pedro rojou-se aos pés do Salvador, exclamando: “Senhor, ausenta-Te de mim, por que sou um homem pecador” (Lucas 5:8); assim na multidão reunida no monte havia pessoas que, na presença de Sua pureza, se sentiam desgraçadas, miseráveis, pobres, cegas e nuas (Apocalipse 3:17); e estas almejavam “a graça de Deus, … trazendo salvação a todos os homens” (Tito 2:11). Nessas almas, as palavras de saudação de Cristo despertaram esperança; viram que sua vida estava sob a bênção de Deus.
 Jesus apresentara a taça de bênçãos aos que se julgavam ricos e de nada carecidos (Apocalipse 3:17), e eles, com escárnio, volveram costas à dádiva misericordiosa. Aquele que se julga são, que pensa ser razoavelmente bom e se satisfaz com o seu estado, não procura tornar-se participante da graça e justiça de Cristo. O orgulho não sente necessidade, fechando, pois, o coração a Cristo e às bênçãos infinitas que Ele veio dar. Não há lugar para Jesus no coração dessa pessoa. Os que são ricos e honrados aos próprios olhos, não oram com fé, para receberem a bênção de Deus. Presumem estar cheios, por isso se retiram vazios. Os que sabem que não se podem salvar a si mesmos, nem de si praticar qualquer ação de justiça, são os que apreciam o auxílio que Cristo pode conceder. São eles os humildes de espírito, aos quais Ele declara bem-aventurados.
 Aquele a quem Cristo perdoa, faz Ele primeiro penitente, e é função do Espírito Santo convencer do pecado. Aquele cujo coração foi movido pela convicção comunicada pelo Espírito de Deus, vê que em si mesmo nenhum bem existe. Vê que tudo que já fez está misturado com o próprio eu e o pecado. Como o pobre publicano, fica a distância, não ousando erguer os olhos ao céu, e clamam: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13). Essas pessoas são abençoadas. Há perdão para o penitente, pois Cristo é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). A promessa de Deus é “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías 1:18). “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um Espírito novo” (Ezequiel 36:26).
 Dos humildes de espírito, diz Jesus: “Deles é o reino dos Céus” (Mateus 5:3). Este reino não é, como esperavam os ouvintes de Cristo, um domínio temporal e terreno. Cristo estava a abrir aos homens o reino espiritual de Seu amor, Sua graça, Sua justiça. A insígnia do reino do Messias distingue-se pela imagem do Filho do homem. Seus súditos são os humildes de espírito, os mansos, os perseguidos por causa da justiça. Deles é o reino dos Céus. Conquanto não se tenha ainda realizado plenamente, iniciou-se neles a obra que os tornará “idôneos para participar da herança dos santos na luz” (Colossenses 1:12).
 Todos os que têm a intuição de sua profunda pobreza de alma e veem que em si mesmos nada possuem de bom, encontrarão justiça e força olhando a Jesus. Diz Ele: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos” (Mateus 11:28). Ele vos ordena que troqueis a vossa pobreza pelas riquezas de Sua graça. Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa segurança, é digno, e capaz de salvar abundantemente todos os que forem a Ele. Qualquer que tenha sido vossa vida passada, por mais desanimadoras que sejam vossas circunstâncias presentes, se fordes a Jesus exatamente como sois, fracos, incapazes e em desespero, nosso compassivo Salvador irá grande distância ao vosso encontro, e em torno de vós lançará os braços de amor e as vestes de Sua justiça. Ele nos apresenta ao Pai, trajados nas vestes brancas de Seu próprio caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: Eu tomei o lugar do pecador. Não olhes a este filho desgarrado, mas a Mim. E quando Satanás intervém em altos brados contra nossa alma, acusando-nos de pecado, e reivindicando-nos como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder.
 “De Mim se dirá: Deveras no Senhor há justiça e força. … No Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel” (Isaías 45:24 e 25).

 “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mateus 5:4).
 O pranto aqui apresentado é a sincera tristeza de coração pelo pecado. Jesus diz: “E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim” (João 12:32). E ao contemplarmos Jesus levantado sobre a cruz, discerniremos o estado pecaminoso da humanidade. Vemos que foi o pecado que açoitou e crucificou o Senhor da glória. Vemos que, ao passo que somos amados com indizível ternura, nossa vida tem sido uma contínua cena de ingratidão e rebelião. Esquecemos nosso melhor Amigo, e desprezamos o mais precioso dom deparado pelo Céu. Crucificamos de novo, em nós mesmos, o Filho de Deus e de novo traspassamos aquele sangrento e ferido coração. Separamo-nos de Deus por um abismo de pecado, extenso, negro e profundo, e choramos com coração quebrantado.
 Esse pranto será “consolado”. Deus nos revela a culpa a fim de que nos possamos dirigir a Cristo, e por meio dEle sejamos libertados da servidão do pecado e nos regozijemos na liberdade dos filhos de Deus. Em verdadeira contrição podemos arrojar-nos aos pés da cruz, e ali depor o nosso fardo.
 As palavras do Salvador contêm também uma mensagem de conforto para os que sofrem aflição ou privação. Nossas tristezas não brotam da terra. Deus “não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (Lamentações 3:33). Quando permite que nos sobrevenham provações e aflições é “para nosso proveito, para sermos participantes da Sua santidade” (Hebreus 12:10).
 Se recebida, com fé, a provação que parece tão amarga e difícil de suportar provar-se-á uma bênção. O golpe cruel que desfaz as alegrias tornar-se-á o meio de fazer-nos volver os olhos para o Céu. Quantos há que nunca teriam conhecido Jesus se a tristeza os não houvesse levado a buscar dEle conforto!
 As provações da vida são obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas e arestas. Penoso é o processo de cortar, desbastar, aparelhar, lustrar, polir; é molesto estar, por força, sob a ação da pedra de polimento. Mas a pedra é depois apresentada pronta para ocupar seu lugar no templo celestial. O Mestre não efetua trabalho assim cuidadoso e completo com material imprestável. Só as Suas pedras preciosas são polidas, como colunas de um palácio.
 O Senhor trabalhará por todos os que nEle puseram sua confiança. Preciosas vitórias serão alcançadas pelos fiéis, inestimáveis lições aprendidas e realizadas valiosas experiências.
 Nosso Pai celestial nunca Se esquece daqueles a quem a tristeza alcançou. Quando Davi seguia pelo monte das Oliveiras, “subindo e chorando, e com a cabeça coberta; e caminhava com os pés descalços” (2Samuel 15:30), o Senhor, apiedado, observava-o. Davi vestira-se de saco e sua consciência o acusava. Os sinais exteriores de humilhação testificavam de quão contrito se achava. Em sentidas expressões, vindas de um coração quebrantado, apresentou seu caso a Deus, e o Senhor não desamparou Seu servo. Nunca foi Davi mais caro ao coração do Infinito Amor do que quando, com consciência abatida, para salvar a vida fugiu dos inimigos que haviam sido instigados à rebelião por seu próprio filho. Diz o Senhor: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Apocalipse 3:19). Cristo ampara o coração contrito e purifica a alma pesarosa, até que se torne Sua morada.
 Mas quando nos sobrevém a tribulação, quantos de nós são como Jacó! Julgamos ser a mão de um inimigo; e na escuridão lutamos cegamente até ter gasto as forças, sem encontrarmos conforto nem libertação. O toque divino em Jacó ao raiar do dia, revelou Aquele com quem estivera lutando – o Anjo do concerto; e pranteando, deixou-se cair impotente nos braços do Infinito Amor, para receber as bênçãos que sua alma anelava. Também nós precisamos aprender que as provações significam benefício, e não desprezar o castigo do Senhor, nem desfalecer quando somos por Ele repreendidos.
 “Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga. … Porque Ele faz a chaga, e Ele mesmo a liga; Ele fere, e as Suas mãos curam. Em seis angústias, te livrará; e, na sétima, o mal te não tocará” (Jó 5:17-19). A cada ferido Se achega Jesus com Seu poder curativo. A vida de privação, dor e sofrimento pode ser iluminada pelas preciosas revelações de Sua presença.
 Não é vontade de Deus que nos mantenhamos subjugados pela muda tristeza, coração ferido e quebrantado. Ele quer que olhemos para cima e Lhe contemplemos a serena face de amor. O bendito Salvador Se põe ao lado de muitos, cujos olhos estão tão cegados pelas lágrimas, que nem O discernem. Deseja tomar-nos pela mão, e que O olhemos com fé simples, permitindo que Ele nos guie. Seu coração abre-Se às nossas dores, tristezas e provações. Amou-nos com amor eterno e com amorável benignidade nos atraiu. Podemos fazer descansar sobre Ele o coração e meditar o dia todo em Sua amorável benignidade. Ele erguerá a alma acima dos diários dissabores e perplexidades, a um reino de paz.
 Pensai nisto, filhos do sofrimento e da dor, e regozijai-vos em esperança: “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1João 5:4).
 Bem-aventurados são também os que choram com Jesus, em simpatia com os entristecidos do mundo, e em tristeza pelo pecado. Desse pranto não participa nenhum pensamento egoísta. Jesus foi o Varão de dores, suportando angústia de coração tal que nenhuma linguagem poderá retratar. Seu espírito foi ferido e moído pelas transgressões do homem. Afadigou-Se em zelo consumidor para aliviar as necessidades e infortúnios da humanidade, e o Seu coração pesava de tristeza ao ver multidões recusarem ir a Ele para que vivessem. Todos os que são seguidores de Cristo terão parte nesta experiência. Ao participarem de Seu amor, entrarão para o Seu serviço a fim de salvar os perdidos. Participam dos sofrimentos de Cristo e também participarão da glória que há de ser revelada. Unidos com Ele em Sua obra, com Ele sorvendo o cálice da amargura, são também participantes de Sua alegria.
 Foi por meio de sofrimento que Jesus alcançou o ministério da consolação. Em toda a angústia da humanidade foi angustiado (Isaías 63:9); e “naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hebreus 2:18). Toda alma que entra em comunhão com Ele neste ministério, tem o privilégio de participar de Seus sofrimentos. “Como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo” (2Coríntios 1:5). O Senhor tem graça especial para outorgar ao que pranteia, graça cujo poder é abrandar corações e ganhar almas. Seu amor abre caminho na alma ferida e quebrantada, e torna-se bálsamo curativo para os que choram. “O Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, … nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus” (2Coríntios 1:3 e 4).

 “Bem-aventurados os mansos” (Mateus 5:5).
 Há, através das bem-aventuranças, uma progressão na experiência cristã. Os que sentiram sua necessidade de Cristo, os que choraram por causa do pecado, e se sentaram com Cristo na escola da aflição, hão de, com o divino Mestre, aprender a ser mansos.
 A paciência e a brandura ao sofrer ofensas, não eram características apreciadas pelos pagãos e pelos judeus. A declaração feita por Moisés sob a inspiração do Espírito Santo, de ser ele o homem mais manso que havia sobre a Terra, não teria sido considerada pelo povo de seu tempo como um louvor; teria antes provocado piedade ou desprezo. Mas Cristo coloca a mansidão entre os primeiros atributos necessários para habitar em Seu reino. Em Sua própria vida e caráter revela-se a divina beleza dessa graça preciosa.
 Jesus, o resplendor da glória do Pai, “não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens” (Filipenses 2:6 e 7). Consentiu em passar por todas as humildes experiências da vida, andando entre os filhos dos homens, não como rei, exigindo homenagens, mas como Alguém cuja missão era servir aos outros. Não havia em Sua maneira de ser nenhum traço de beatice ou de fria austeridade. O Redentor do mundo tinha uma natureza superior à dos anjos, todavia, unidas a Sua divina majestade achavam-se a mansidão e a humildade que atraíam todos a Ele.
 Jesus Se esvaziou a Si mesmo e, em tudo quanto fez, o próprio eu não aparecia. Subordinava todas as coisas à vontade de Seu Pai. Quando Sua missão na Terra estava prestes a terminar, foi-Lhe possível dizer: “Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer” (João 17:4). Ele nos pede: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mateus 11:29). “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo” (Mateus 16:24); que o próprio eu seja destronado e nunca mais possua a supremacia da alma.
 Aquele que contempla a Cristo em Sua abnegação, em Sua humildade de coração será constrangido a dizer, como o fez Daniel quando viu Alguém semelhante aos filhos dos homens: “Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio” (Daniel 10:8). A altivez e supremacia própria em que nos gloriamos, são vistas em sua verdadeira vileza, como testemunhos de servidão a Satanás. A natureza humana está sempre lutando por se manifestar, pronta para a disputa; mas aquele que aprende de Cristo, esvazia-se do próprio eu, do orgulho, do amor da supremacia, e há silêncio na alma. O próprio eu é colocado ao dispor do Espírito Santo. Não andamos então ansiosos de ocupar o primeiro lugar. Não ambicionamos comprimir e acotovelar para nos pôr em destaque; mas sentimos que nosso mais alto lugar é aos pés de nosso Salvador. Olhamos para Jesus, esperando que Sua mão nos conduza, escutando Sua voz, em busca de guia. O apóstolo Paulo teve essa experiência, e disse: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gálatas 2:20).
 Quando recebemos a Cristo na alma, como hóspede permanente, a paz de Deus, que excede a todo entendimento, guarda nosso coração e espírito em Cristo Jesus. A vida do Salvador na Terra, embora passada em meio de conflito, foi uma vida de paz. Conquanto irados inimigos O estivessem sempre perseguindo, Ele disse: “Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada” (João 8:29). Nenhuma tempestade de ira humana ou diabólica poderia perturbar a calma daquela perfeita comunhão com Deus. E Ele nos diz: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou” (João 14:27). “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso” (Mateus 11:29). Levai comigo o jugo do serviço, para a glória de Deus e o reerguimento da humanidade, e achareis suave o jugo, e leve o fardo.
 É o amor do próprio eu que destrói a nossa paz. Enquanto o eu está bem vivo, estamos continuamente prontos a preservá-lo de mortificação e insulto; mas, se estamos mortos, e nossa vida escondida com Cristo em Deus, não levaremos a sério as desatenções e indiferenças. Seremos surdos às censuras, e cegos à zombaria e ao insulto. “A amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Coríntios 13:4-8).
 A felicidade derivada de fontes terrenas é tão mutável como a podem tornar as várias circunstâncias; a paz de Cristo, porém, é constante e permanente. Ela não depende de qualquer circunstância da vida, da quantidade de bens mundanos, ou do número de amigos. Cristo é a fonte da água viva, e a felicidade que dEle procede não pode jamais falhar.
 A mansidão de Cristo, manifestada no lar, tornará felizes os membros da família; ela não provoca disputas, não dá más respostas, mas acalma o temperamento irritado, e difunde uma suavidade que se faz sentir por todos os que se acham dentro do aprazível ambiente. Sempre que é nutrida, torna as famílias da Terra uma parte da grande família do Céu.
 Muito melhor nos é sofrer sob falsa acusação, do que nos infligirmos a nós mesmos a tortura da desforra sobre os nossos inimigos. O espírito de ódio e vingança teve sua origem em Satanás, e só pode trazer mal sobre aquele que o nutre. Humildade de coração, aquela mansidão que é o fruto de permanecer em Cristo, é o verdadeiro segredo da bênção. “Ele adornará os mansos com a salvação” (Salmos 149:4).
 Os mansos “herdarão a Terra” (Salmos 37:11). Foi mediante o desejo de exaltação própria que o pecado entrou no mundo, e nossos primeiros pais perderam o domínio sobre a bela Terra, seu reino. É mediante a abnegação que Cristo redime o que se havia perdido. E Ele diz que devemos vencer como Ele venceu (Apocalipse 3:21). Por meio da humildade e renúncia do próprio eu, podemos tornar-nos co-herdeiros com Ele, quando os mansos herdarem a Terra.
 A Terra prometida aos mansos não se parecerá com esta, obscurecida pelas sombras da morte e da maldição. “Nós, segundo a Sua promessa, aguardamos novos céus e nova Terra, em que habita a justiça” (2Pedro 3:13). “E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os Seus servos O servirão” (Apocalipse 22:3).
 Não haverá decepção, nem pesar, nem pecado, ninguém que diga: enfermo estou; não haverá cortejos fúnebres, nem lamentações, nem morte, nem separações, nem corações partidos; mas Jesus ali estará, ali estará a paz. Os remidos “nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o Sol os afligirão, porque O que Se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos mananciais das águas” (Isaías 49:10).

 “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5:6).
 Justiça é santidade, semelhança com Deus; e “Deus é amor” (1João 4:16). É conformidade com a lei de Deus; pois “todos os Teus mandamentos são justiça” (Salmos 119:172); e o “cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13:10). Justiça é amor, e o amor é a luz e a vida de Deus. A justiça de Deus se acha concretizada em Cristo. Recebemos a justiça recebendo-O a Ele.
 Não é por meio de penosas lutas ou fatigante lida, nem de dádivas ou sacrifícios, que alcançamos a justiça; ela é, porém, gratuitamente dada a toda pessoa que dela tem fome e sede. “Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; … sem dinheiro e sem preço” (Isaías 55:1). “Sua justiça… vem de Mim, diz o Senhor” (Isaías 54:17), e “este será o seu nome com que O nomearão: O SENHOR, JUSTIÇA NOSSA” (Jeremias 23:6).
 Nenhum agente humano pode suprir aquilo que satisfará a fome e a sede da alma. Mas Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20). “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede” (João 6:35).
 Como precisamos de alimento para sustentar nossas forças físicas, assim necessitamos de Cristo, o pão do Céu, para manter a vida espiritual, e comunicar forças para efetuar as obras de Deus. Como o corpo está continuamente recebendo a nutrição que sustém a vida e o vigor, assim a alma deve estar constantemente comungando com Cristo, a Ele submissa, e confiando inteiramente nEle.
 Como o fatigado viajante procura a fonte no deserto e, encontrando-a sacia a sede abrasadora, assim há de o cristão ansiar e obter a pura água da vida, de que Cristo é a fonte.
 Ao discernirmos a perfeição do caráter de nosso Salvador, havemos de desejar ser inteiramente transformados, e renovados à imagem de Sua pureza. Quanto mais conhecermos a Deus, tanto mais elevado será nosso ideal de caráter, e mais veemente o nosso anseio de Lhe refletir a imagem. Um elemento divino combina-se com o humano, quando a alma se dilata, em busca de Deus, e o ansioso coração pode exclamar: “Ó minha alma, espera somente em Deus, porque dEle vem a minha esperança” (Salmos 62:5).
 Se experimentais um sentimento de necessidade em vossa alma, se tendes fome e sede de justiça, isso é prova de que Cristo tem operado em vosso coração, a fim de ser por vós procurado, para vos fazer, mediante o dom do Espírito Santo, aquilo que vos é impossível realizar em vosso próprio benefício. Não precisamos saciar nossa sede em correntes rasas; pois a grande fonte se acha mesmo por sobre nós, fonte de cujas abundantes águas nos é dado beber fartamente, se nos alçarmos um pouco mais na escalada da fé.
 As palavras de Deus são a fonte da vida. Ao buscardes essas vivas fontes haveis de, mediante o Espírito Santo, ser postos em comunhão com Cristo. Verdades familiares apresentar-se-ão ao vosso espírito sob novo aspecto; como o clarão de um relâmpago, novas significações cintilarão de textos familiares da Escritura; vereis a relação de outras verdades com a obra da redenção, e sabereis que Cristo vos está guiando; que tendes ao lado um Mestre divino.
 Jesus disse: “A água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (João 4:14). À medida que o Espírito Santo vos descerre a verdade, haveis de entesourar as mais preciosas experiências, e falareis longamente a outros das confortadoras coisas que vos têm sido reveladas. Quando com eles vos reunirdes haveis de comunicar qualquer novo pensamento com relação ao caráter ou à obra de Cristo. Tereis nova revelação de Seu piedoso amor para comunicar aos que O amam, e aos que O não amam.
 “Dai, e ser-vos-á dado” (Lucas 6:38); pois a Palavra de Deus é “a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano” (Cantares 4:15). O coração que experimentou uma vez o amor de Cristo, clama continuamente por uma porção maior e, comunicando-o a outros, recebereis mais rica e abundante medida. Cada revelação de Deus à alma aumenta a capacidade de conhecer e amar. O contínuo brado do coração é: “Mais de Ti”; e sempre a resposta do Espírito é: “Muito mais” (Romanos 5:9 e 10). Pois nosso Deus Se deleita em fazer “tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Efésios 3:20). A Jesus, que Se esvaziou a Si mesmo para a salvação da humanidade perdida, o Espírito Santo foi dado sem medida. Assim será Ele dado a todo seguidor de Cristo, quando todo o coração for entregue para Sua habitação. Nosso Salvador mesmo deu o mandamento: “Enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18), e essa ordem é também uma promessa de seu cumprimento. Foi do agrado do Pai que “toda a plenitude nEle habitasse” (Colossenses 1:19), em Cristo; e “estais perfeitos nEle” (Colossenses 2:10).
 Deus tem derramado de maneira ilimitada o Seu amor, como os aguaceiros que refrigeram a terra. Ele diz: “As nuvens chovam justiça; abra-se a terra, e produza-se salvação, e a justiça frutifique juntamente” (Isaías 45:8). “Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu, o Senhor, os ouvirei, Eu, o Deus de Israel os não desampararei. Abrirei rios em lugares altos e fontes, no meio dos vales; tornarei o deserto em tanques de águas e a terra seca, em mananciais” (Isaías 41:17 e 18). “E todos nós recebemos também da Sua plenitude, com graça sobre graça” (João 1:16).

 “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7).
 O coração do homem é, por natureza, frio, escuro e desagradável; sempre que alguém manifeste espírito de misericórdia e perdão, fá-lo, não de si mesmo, mas mediante a influência do divino Espírito a mover-lhe o coração. “Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (1João 4:19).
 É o próprio Deus a fonte de toda a misericórdia. Seu nome é “misericordioso e piedoso” (Êxodo 34:6). Ele não nos trata segundo os nossos merecimentos. Não indaga se somos dignos de Seu amor, mas derrama sobre nós as riquezas desse amor, a fim de fazer-nos dignos. Não é vingativo. Não busca punir, mas redimir. Mesmo a severidade que mostra por meio de Suas providências, é manifestada para salvação dos extraviados. Intensamente anela Ele aliviar as misérias dos homens, e aplicar-lhes às feridas Seu bálsamo. É verdade que Deus “ao culpado não tem por inocente” (Êxodo 34:7); mas quereria tirar a culpa.
 Os misericordiosos são “participantes da natureza divina” (2Pedro 1:4), e neles encontra expressão o compassivo amor de Deus. Todo aquele cujo coração está em harmonia com o coração do Infinito Amor, buscará reaver e não condenar. A presença permanente de Cristo na alma é urna fonte que jamais secará. Onde Ele habita, haverá uma torrente de beneficência.
 Ante o apelo do tentado, do errante, das míseras vítimas da necessidade e do pecado, o cristão não pergunta: São eles dignos? mas: Como os posso eu beneficiar? Nos mais indignos, mais degradados, vê almas para cuja salvação Cristo morreu, e para quem Deus deu a Seus filhos o ministério da reconciliação.
 Os misericordiosos são os que manifestam compaixão para com os pobres, os sofredores e oprimidos. Jó declara: “Eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Cobria-me de justiça, e ela me servia de veste; como manto e diadema era o meu juízo. Eu era o olho do cego e os pés do coxo; dos necessitados era pai e as causas de que não tinha conhecimento inquiria com diligência” (Jó 29:12-16).
 Muitos há para quem a vida é uma penosa luta; sentem suas deficiências, e são infelizes e incrédulos; pensam nada terem por que ser agradecidos. Palavras bondosas, olhares de simpatia, expressões de apreciação, seriam para muitas almas lutadoras e solitárias como um copo de água fria a uma alma sedenta. Uma palavra compassiva, um ato de bondade, ergueriam fardos que pesam duramente sobre fatigados ombros. E toda palavra ou ato de abnegada bondade é uma expressão do amor de Cristo pela humanidade perdida.
 Os misericordiosos “alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7). “A alma generosa engordará, e o que regar também será regado” (Provérbios 11:25). Há uma doce paz para o espírito compassivo, uma bendita satisfação na vida de esquecimento de si mesmo em benefício de outros. O Espírito Santo que habita na alma e Se manifesta na vida, abrandará corações endurecidos, e despertará simpatia e ternura. Haveis de ceifar aquilo que semeardes. “Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre. … O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na Terra, e Tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; Tu renovas a sua cama na doença” (Salmos 41:1-3).
 Aquele que consagrou sua vida a Deus para o ministério de Seus filhos, está ligado com Aquele que tem todos os recursos do Universo ao Seu dispor. Sua vida se acha, pela áurea cadeia das imutáveis promessas, presa à vida de Deus. O Senhor não lhe faltará na hora do sofrimento e da necessidade. “O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Filipenses 4:19). E na hora da necessidade final os misericordiosos encontrarão abrigo na misericórdia de um compassivo Salvador, e serão recebidos nas eternas habitações.

 “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5:8).
 Os judeus eram tão meticulosos quanto à limpeza cerimonial, que suas regras eram extremamente pesadas. Tinham o espírito preocupado com regras e restrições e o temor de contaminação exterior, e não percebiam a mancha que o egoísmo e a malícia comunicavam à alma.
 Jesus não menciona essa pureza cerimonial como uma das condições de entrar em Seu reino, mas indica a necessidade da pureza de coração. “A sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura” (Tiago 3:17). Na cidade de Deus não entrará coisa alguma que contamine. Todos quantos houverem de ser seus moradores, hão de se ter tornado aqui puros de coração. A pessoa que está aprendendo de Jesus manifestará crescente desagrado pelas maneiras descuidosas, pela linguagem indecente e pensamentos vulgares. Quando Cristo habita no coração, haverá pureza e refinamento de ideias e maneiras.
 Mas as palavras de Jesus: “Bem-aventurados os limpos de coração” (Mateus 5:8), têm um mais profundo sentido – não somente puros no sentido em que o mundo entende a pureza, livres do que é sensual, puros de concupiscências, mas fiéis nos íntimos desígnios e motivos da alma, isentos de orgulho e de interesse egoísta, humildes, abnegados, semelhantes a uma criança.
 Unicamente os semelhantes se podem apreciar. A menos que aceiteis em vossa vida o princípio do amor pronto a se sacrificar, que é o princípio de Seu caráter, não podeis conhecer a Deus. O coração enganado por Satanás olha a Deus como um ser tirânico, implacável; os traços egoístas da humanidade, do próprio Satanás, são atribuídos ao amante Criador. “Pensavas que [Eu] era como tu”, diz Ele (Salmos 50:21). Suas providências são interpretadas como a expressão de uma natureza arbitrária e vingativa. Da mesma maneira quanto à Bíblia, o tesouro das riquezas de Sua graça. A glória de suas verdades – elevadas como o céu, amplas, a abranger a eternidade – não é discernida. Para a grande massa da humanidade, o próprio Cristo é “como raiz de uma terra seca”, e nEle não veem “nenhuma beleza” para que O desejem (Isaías 53:2). Quando Jesus Se achava entre os homens – a revelação de Deus na humanidade – os escribas e os fariseus Lhe declararam: “És samaritano e… tens demônio” (João 8:48). Mesmo Seus discípulos estavam tão cegados pelo egoísmo de seu coração, que eram tardios em compreender Aquele que viera a fim de manifestar-lhes o amor do Pai. Por isto é que Jesus andava solitário entre os homens. No Céu, tão-somente, era Ele compreendido.
 Quando Cristo vier em Sua glória, os ímpios não poderão suportar o contemplá-Lo. A luz de Sua presença, que é vida para os que O amam, é morte para eles, os maus. A expectativa de Sua vinda é para eles uma “expectação horrível de juízo e ardor de fogo” (Hebreus 10:27). Quando Ele aparecer, rogarão para ser escondidos da face dAquele que morreu para os redimir.
 Mas para os corações que foram purificados pela presença do Espírito Santo, tudo diverso. Estes podem conhecer a Deus. Moisés estava oculto na fenda da rocha quando lhe foi revelada a glória do Senhor; e é quando nos encontramos escondidos em Cristo que contemplamos o amor de Deus.
 “O que ama a pureza do coração e tem graça nos seus lábios terá por seu amigo o Rei” (Provérbios 22:11). Pela fé, nós O contemplamos aqui no presente. Em nossa experiência diária, distinguimos Sua bondade e compaixão nas manifestações de Sua providência. Reconhecemo-Lo no caráter de Seu Filho. O Espírito Santo toma a verdade concernente a Deus e Àquele a quem Ele enviou, e descerra-a ao entendimento e ao coração. Os limpos de coração veem a Deus em uma nova e mais carinhosa relação, como seu Salvador; e ao passo que Lhe distinguem a pureza e a beleza do caráter, anelam refletir a Sua imagem. Veem-nO como um Pai ansioso de abraçar um filho arrependido, e o coração enche-se-lhes de indizível alegria e de abundante glória.
 Os limpos de coração percebem o Criador nas obras de Sua poderosa mão, nas belas coisas que enchem o Universo. Em Sua palavra escrita, leem em mais distintos traços a revelação de Sua misericórdia, Sua bondade e Sua graça. As verdades ocultas aos sábios e entendidos, são reveladas às criancinhas. A beleza e preciosidade da verdade, não percebidas pelos sábios do mundo, estão sendo constantemente desdobradas aos que experimentam um confiante e infantil desejo de conhecer e cumprir a vontade de Deus. Discernimos a verdade mediante o tornar-nos, nós mesmos, participantes da natureza divina.
 Os puros de coração vivem como na visível presença de Deus durante o tempo que Ele lhes concede neste mundo. E também O verão face a face no estado futuro, imortal, assim como fazia Adão quando andava e falava com Deus no Éden. “Agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face” (1Coríntios 13:12).

 “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).
 Cristo é o “Príncipe da Paz” (Isaías 9:6), e é Sua missão restituir à Terra e ao Céu a paz que o pecado arrebatou. “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Todo aquele que consente em renunciar ao pecado, e abre o coração ao amor de Cristo, torna-se participante dessa paz celestial.
 Não há outra base de paz senão essa. A graça de Cristo, recebida no coração, subjuga a inimizade; afasta a contenda, e enche o coração de amor. Aquele que se acha em paz com Deus e seus semelhantes, não se pode tornar infeliz. Em seu coração não se achará a inveja; ruins suspeitas aí não encontrarão guarida; o ódio não pode existir. O coração que se encontra em harmonia com Deus partilha da paz do Céu, e difundirá ao redor de si sua bendita influência. O espírito de paz repousará qual orvalho sobre os corações desgostosos e turbados pelos conflitos mundanos.
 Os seguidores de Cristo são enviados ao mundo com a mensagem de paz. Quem quer que seja que, pela serena, inconsciente influência de uma vida santa, revelar o amor de Cristo; quem quer que, por palavras ou ações, levar outro a abandonar o pecado e entregar o coração a Deus, é um pacificador.
 E “bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). O espírito de paz é um testemunho de sua ligação com o Céu. Envolve-os a suave fragrância de Cristo. O aroma da vida, a beleza do caráter, revelam ao mundo que eles são filhos de Deus. Vendo-os, os homens reconhecem que eles têm estado com Jesus. “Qualquer que ama é nascido de Deus” (1João 4:7). “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle”, mas “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Romanos 8:9 e 14).
 “E estará o resto de Jacó no meio de muitos povos, como orvalho do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem aguarda filhos de homens” (Miqueias 5:7).

 “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus” (Mateus 5:10).
 A Seus seguidores não dá Jesus nenhuma esperança de glória ou riquezas terrestres ou de uma vida livre de tentações, mas mostra-lhes o privilégio de trilhar com o Senhor o caminho da abnegação e suportar calúnias do mundo que os não conhece.
 A Ele que viera para salvar o mundo perdido, opuseram-se unidas as forças do inimigo de Deus e dos homens. Em cruel conspiração levantaram-se os homens e anjos maus contra o Príncipe da paz. Embora cada palavra e ação testificassem da compaixão divina, Sua falta de semelhança com o mundo provocava a mais amarga inimizade. Porque não consentisse em nenhuma inclinação má da natureza humana, despertou a mais feroz oposição e inimizade. Assim acontece a todos quantos desejam viver piamente em Cristo Jesus. Entre a justiça e o pecado, amor e ódio, verdade e falsidade há conflito irreprimível. Quem manifestar, na conduta, o amor de Cristo e a beleza da santidade, subtrai a Satanás os seus súditos, e por isso o príncipe das trevas contra ele se levanta. Opróbrio e perseguições atingirão a todos os que estão cheios do espírito de Cristo. A maneira das perseguições poderá mudar com o tempo, mas o fundamento – o espírito que lhes serve de base – é o mesmo que, desde os tempos de Abel, assassinou os escolhidos de Deus. Logo que os homens procuram viver em harmonia com Deus, acharão que o escândalo da cruz ainda não findou. Principados, potestades e exércitos espirituais da maldade nos lugares celestiais, estão voltados contra todos os que se submetem obedientemente à lei celestial. Por isso, aos discípulos de Cristo, deveriam as perseguições causar alegria, em lugar de tristeza, porque elas são uma demonstração de que seguem os passos do Senhor.
 Conquanto o Senhor não prometa estarem Seus servos livres de perseguição, assegura-lhes coisa muito melhor. Diz Ele: “A tua força será como os teus dias” (Deuteronômio 33:25). “A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Coríntios 12:9). Quem precisar, por amor de Cristo, passar pelo calor da fornalha, terá ao lado o Senhor, como os três fiéis de Babilônia. Quem amar ao Redentor, alegrar-se-á em todas as ocasiões, de participar das Suas humilhações e insultos. O amor de Jesus torna doces os sofrimentos.
 Em todos os tempos, Satanás perseguiu, torturou e matou os filhos de Deus; mas, morrendo eles, tornaram-se vencedores. Testemunharam em sua perseverante fidelidade que Alguém mais poderoso que o inimigo, estava com eles. Satanás podia torturar-lhes o corpo e matá-los, mas não tocar na vida que, com Cristo, estava escondida em Deus. Encerrou-os nas masmorras, mas não pôde prender-lhes o espírito. Os prisioneiros, através da escuridão do cárcere, podiam olhar para a glória e dizer: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8:18). “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2Coríntios 4:17).
 Pelo sofrimento e perseguição, a glória – o caráter – de Deus será manifestada em Seus escolhidos. A igreja de Deus, odiada e perseguida pelo mundo, é educada e disciplinada na escola de Cristo; caminha na Terra pela estrada estreita, é purificada na fornalha da aflição, segue o Senhor através de duras batalhas, exercita-se na abnegação e sofre amargas experiências, mas reconhece por tudo isso a culpa e a miséria do pecado e aprende a afugentá-lo.
 Visto tomar parte nos sofrimentos de Cristo, [o sofredor] participará também de Sua glória. Em visão, contemplou o profeta a vitória do povo de Deus. Diz ele: “E vi um como mar de vidro misturado com fogo e também os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor, Deus Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos!” (Apocalipse 15:2 e 3). “Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra” (Apocalipse 7:14 e 15).

 “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem” (Mateus 5:11).
 Sempre, desde sua queda, Satanás tem operado mediante enganos. Como tem apresentado falsamente a Deus, assim, mediante seus agentes, apresenta ele de maneira desfigurada os filhos de Deus. Diz o Salvador: “As afrontas dos que Te afrontam caíram sobre Mim” (Salmos 69:9). Assim recaem elas sobre os Seus discípulos.
 Jamais houve alguém que andasse entre os homens mais cruelmente caluniado do que o Filho do homem. Era desprezado e escarnecido por causa de Sua incondicional obediência aos princípios da santa lei de Deus. Aborreceram-nO sem causa. Todavia Ele permanecia calmo perante Seus inimigos, declarando que o sofrimento é uma parte do legado dos cristãos, aconselhando Seus seguidores quanto à maneira de enfrentar as setas da perversidade, pedindo-lhes que não desfalecessem sob a perseguição.
 Conquanto a calúnia possa enegrecer a reputação, não pode manchar o caráter. Este se encontra sob a guarda de Deus. Enquanto não consentirmos em pecar, não há poder, diabólico ou humano, que nos possa trazer uma nódoa à alma. Um homem cujo coração está firme em Deus é, na hora de suas mais aflitivas provações e desanimadoras circunstâncias, o mesmo que era quando em prosperidade, quando sobre ele pareciam estar a luz e o favor de Deus. Suas palavras, seus motivos, suas ações, podem ser desfigurados e falsificados, mas ele não se importa, pois tem em jogo maiores interesses. Como Moisés, fica firme como “vendo o invisível” (Hebreus 11:27); não atentando nas “coisas que se veem, mas nas que se não veem” (2Coríntios 4:18).
 Cristo está a par de tudo quanto é mal-interpretado e desfigurado pelos homens. Seus filhos podem esperar com serena paciência e confiança, por mais que sofram malignidade e desprezo; pois nada há oculto que não haja de manifestar-se, e aqueles que honram a Deus hão de por Ele ser honrados na presença dos homens e dos anjos.
 “Quando vos injuriarem, e perseguirem”, disse Jesus, “exultai e alegrai-vos” (Mateus 5:11 e 12). E apontou aos Seus ouvintes os profetas que falaram em nome do Senhor, como “exemplo de aflição e paciência” (Tiago 5:10). Abel, o primeiro cristão dos filhos de Adão, morreu mártir. Enoque andou com Deus, e o mundo não o conheceu. Noé foi escarnecido como fanático e alarmista. “Outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.” Outros “foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição” (Hebreus 11:36 e 35).
 Em todos os séculos os escolhidos mensageiros de Deus têm sido ultrajados e perseguidos; não obstante, mediante seus sofrimentos foi o conhecimento de Deus disseminado no mundo. Todo discípulo de Cristo tem de ingressar nas fileiras e levar avante a mesma obra, sabendo que seu inimigo nada pode fazer contra a verdade, senão pela verdade. Deus pretende que a verdade seja posta pela frente, se torne objeto de exame e consideração, a despeito do desprezo que lhe votem. O espírito do povo deve ser agitado; toda polêmica, toda crítica, todo esforço para restringir a liberdade de consciência, é um instrumento de Deus para despertar as mentes que, do contrário, ficariam sonolentas.
 Quantas vezes se tem observado esses resultados na história dos mensageiros de Deus! Quando o nobre e eloquente Estêvão foi apedrejado por instigação do conselho do Sinédrio, não houve nenhum prejuízo para a causa do evangelho. A luz do Céu a iluminar-lhe o semblante, a divina compaixão que transpirava de sua oração quando moribundo, foram qual penetrante seta de convicção para os fanáticos membros do Sinédrio ali presentes, e Saulo, o fariseu perseguidor, tornou-se um vaso escolhido para levar diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel, o nome de Cristo. E muito depois Paulo, já envelhecido, escreveu de sua prisão em Roma: “Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, … não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade” (Filipenses 1:15, 17 e 18). Por meio da prisão de Paulo o evangelho foi difundido, e almas ganhas para Cristo no próprio palácio dos Césares. Pelos esforços de Satanás para a destruir, a “incorruptível” semente da Palavra de Deus, “viva e que permanece para sempre” (1Pedro 1:23), é semeada no coração dos homens; mediante o sofrimento e a perseguição de Seus filhos, o nome de Cristo é magnificado, e almas são salvas.
 Grande é no Céu o galardão dos que testemunham em favor de Cristo por meio de perseguição e opróbrio. Enquanto o povo está esperando bens terrenos, Jesus os encaminha a uma recompensa celestial. Não a coloca, entretanto, inteiramente na vida futura; ela começa aqui. O Senhor apareceu na antiguidade a Abraão, dizendo: “Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão” (Gênesis 15:1). Esta é a recompensa de todos quantos seguem a Cristo. Jeová Emanuel – Aquele “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”, em quem habita “corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:3 e 9) – ser levado a sentir em correspondência com Ele, conhecê-Lo, possuí-Lo, à medida que o coração se abre mais e mais para receber-Lhe os atributos; conhecer-Lhe o amor e o poder, possuir as insondáveis riquezas de Cristo, compreender mais e mais “qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:18 e 19) – “esta é a herança dos servos do Senhor e a sua justiça que vem de Mim, diz o Senhor” (Isaías 54:17).
 Foi esta alegria que encheu o coração de Paulo e Silas quando oravam e cantavam louvores a Deus à meia-noite, na prisão de Filipos. Cristo Se achava ali ao seu lado, e a luz de Sua presença irradiava na escuridão com a glória das cortes celestes. De Roma escreveu Paulo, esquecido de suas cadeias, ao ver a difusão do evangelho: “Nisto me regozijo e me regozijarei ainda” (Filipenses 1:18). E as próprias palavras de Cristo sobre o monte são ecoadas na mensagem de Paulo à igreja dos filipenses, em meio das perseguições que sofriam: “Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos” (Filipenses 4:4).

 “Vós sois o sal da Terra” (Mateus 5:13).
 O sal é apreciado por suas propriedades preservativas; e quando Deus compara Seus filhos ao sal, quer ensinar-lhes que Seu desígnio em torná-los objeto de Sua graça, é que se tornem instrumentos na salvação de outros. O objetivo de Deus em escolher um povo acima de todos no mundo, não era apenas o adotá-los como filhos e filhas, mas que, por meio deles, o mundo recebesse a graça que traz a salvação (Tito 2:11). Quando o Senhor escolheu a Abraão, não foi simplesmente para que ele se tornasse um especial amigo de Deus, mas para que fosse um transmissor dos privilégios particulares que o Senhor desejava outorgar às nações. Em Sua última oração com os discípulos antes da crucifixão, Jesus disse: “E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade” (João 17:19). Semelhantemente os cristãos que são purificados por meio da verdade possuirão qualidades salvadoras, que preservarão o mundo da inteira corrupção moral.
 O sal deve ser misturado com a substância em que é posto; é preciso que penetre a fim de conservar. Assim, é com o contato pessoal e a convivência que os homens são alcançados pelo poder salvador do evangelho. Não são salvos em massa, mas como indivíduos. A influência pessoal é um poder. Cumpre-nos achegar-nos àqueles a quem desejamos beneficiar.
 O sabor do sal representa o poder do cristão – o amor de Jesus no coração, a justiça de Cristo penetrando a vida. O amor de Cristo é de natureza a difundir-se e penetrar. Caso em nós habite, fluirá para outros. Havemos de aproximar-nos deles tanto que seu coração seja aquecido por nosso abnegado interesse e amor. Os crentes sinceros difundem uma energia vital, penetrante, que comunica nova força moral às almas por quem trabalham. Não é o poder do próprio homem, mas o do Espírito Santo, que opera a obra transformadora.
 Jesus acrescentou a solene advertência: “E, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens” (Mateus 5:13).
 Enquanto ouviam as palavras de Cristo, o povo podia ver o alvo sal brilhando nas veredas onde fora lançado por haver perdido o seu sabor, tornando-se portanto inútil. Isto bem representava as condições dos fariseus, e o efeito de sua religião sobre a sociedade. Representa a vida de toda alma de quem se apartou o poder da graça de Deus, e que se tornou fria e destituída de Cristo. Seja qual for sua profissão de fé, essa pessoa é considerada pelos homens e os anjos insípida e desagradável. É a tais pessoas que Cristo diz: “Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da Minha boca” (Apocalipse 3:15 e 16).
 Sem uma viva fé em Cristo como Salvador pessoal, é impossível fazer com que nossa influência seja sentida em um mundo cético. Não podemos dar a outros aquilo que nós mesmos não possuímos. É proporcionalmente à nossa própria devoção e consagração a Cristo, que exercemos uma influência para benefício e reerguimento da humanidade. Caso não haja real serviço, nem genuíno amor, nem realidade de experiência, não há poder para ajudar, nem comunhão com o Céu, nem sabor de Cristo na vida. A não ser que o Espírito Santo se possa servir de nós como instrumentos mediante os quais comunique ao mundo a verdade qual ela é em Jesus, somos como sal que perdeu o sabor e está de todo inútil. Por nossa falta da graça de Cristo testificamos ao mundo que a verdade que pretendemos crer não possui poder santificador; e assim, no que respeita à nossa influência, tornamos de nenhum efeito a Palavra de Deus. “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o sino que tine. E ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1Coríntios 13:1-3).
 Quando o amor enche o coração, fluirá para os outros, não por causa de favores recebidos deles, mas porque é o amor o princípio da ação. O amor modifica o caráter, rege os impulsos, subjuga a inimizade e enobrece as afeições. Este amor é vasto como o Universo, e está em harmonia com o dos anjos ministradores. Nutrido no coração, adoça a vida inteira e derrama seus benefícios sobre todos ao redor. É isto, e isto unicamente, que nos pode tornar o sal da Terra.

 “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5:14).
 À medida que Jesus ensinava o povo, tornava interessantes Suas lições e prendia a atenção dos ouvintes por meio de frequentes ilustrações tiradas das cenas da Natureza que os rodeava. O povo se reunira ainda pela manhã. O glorioso Sol, elevando-se mais e mais no firmamento azul, ia dissipando as sombras ocultas nos vales e nas estreitas gargantas das montanhas. A glória dos céus orientais ainda não se havia dissipado. A luz solar inundava a Terra com seu esplendor; a plácida superfície do lago refletia a áurea luz e espelhava as róseas nuvens matinais. Cada botão, cada flor e folha cintilava de gotas de orvalho. A Natureza sorria à bênção de um novo dia, e os pássaros cantavam docemente entre as árvores. O Salvador olhou ao grupo que tinha diante de Si, e depois ao Sol nascente, e disse a Seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5:14). Como sai o Sol em sua missão de amor, desvanecendo as sombras da noite e despertando o mundo para a vida, assim os seguidores de Cristo devem ir em sua missão, difundindo a luz do Céu sobre os que se encontram nas trevas do erro e do pecado.
 Na luminosidade da manhã, destacavam-se nitidamente as cidades e aldeias situadas nos montes ao redor, tornando-se num atrativo aspecto do cenário. Apontando-as, disse Jesus: “Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.” E acrescentou: “Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa” (Mateus 5:14 e 15). A maioria dos que ouviam a Jesus, eram camponeses e pescadores, cujas humildes habitações consistiam apenas em um aposento, no qual a única lâmpada, em seu velador, iluminava a todos os que estavam na casa. Assim, disse Jesus: “Resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus” (Mateus 5:16).
 Nenhuma outra luz brilhou nem brilhará jamais sobre os homens caídos, a não ser aquela que dimana de Cristo. Jesus, o Salvador, é a única luz que pode iluminar a escuridão de um mundo imerso no pecado. A respeito de Cristo está escrito: “NEle, estava a vida e a vida era a luz dos homens” (João 1:4). Foi recebendo de Sua luz que os discípulos se puderam tornar portadores de luz. A vida de Cristo na alma, Seu amor revelado no caráter, torná-los-ia a luz do mundo.
 De si mesma a humanidade não possui luz. Separados de Cristo, somos semelhantes a uma vela não acesa, como a Lua quando tem a face voltada para o lado contrário ao Sol; não temos um único raio luminoso a lançar sobre as trevas do mundo. Ao volver-nos, porém, para o Sol da Justiça, ao nos pormos em contato com Cristo, a alma inteira é iluminada com o brilho da divina presença.
 Os seguidores de Cristo devem ser mais que uma luz entre os homens. Eles são a luz do mundo. Jesus diz a todos quantos proferem Seu nome: Vós vos entregastes a Mim, e Eu vos entreguei ao mundo como Meus representantes. Como o Pai O enviara ao mundo, assim, declara Ele, “também Eu os enviei ao mundo” (João 17:18). Como Cristo é o instrumento para a revelação do Pai, assim devemos nós ser o meio para a revelação de Cristo. Conquanto nosso Salvador seja a grande fonte de iluminação, não esqueçais, ó cristãos, que Ele é revelado mediante a humanidade. As bênçãos de Deus são concedidas por meio de instrumentos humanos. O próprio Cristo veio ao mundo como o Filho do homem. A humanidade, unida à natureza divina, deve tocar a humanidade. A igreja de Cristo, cada discípulo do Mestre, individualmente, é o veículo designado pelo Céu para a revelação de Deus aos homens. Anjos de glória esperam comunicar por vosso intermédio a luz e o poder celestes a almas prestes a perecer. Deixarão os agentes humanos de cumprir a tarefa que lhes é designada? Oh! então, é o mundo, na mesma proporção, roubado da prometida influência do Espírito Santo.
 Mas Jesus não pediu aos discípulos: Esforçai-vos por fazer resplandecer a vossa luz; Ele disse: “Resplandeça” (Mateus 5:16). Se Cristo habita no coração, é impossível esconder a luz de Sua presença. Se aqueles que professam ser seguidores de Cristo não são a luz do mundo, é porque o poder vital os deixou; se não têm luz para comunicar, é porque não têm ligação com a Fonte da luz.
 Em todos os tempos, o “Espírito de Cristo, que estava neles” (1Pedro 1:11) tem feito os verdadeiros filhos de Deus a luz do povo de sua geração. José foi um portador de luz no Egito. Em sua pureza, beneficência e amor filial, representou a Cristo em meio de uma nação idólatra. Enquanto os israelitas iam a caminho do Egito para a Terra Prometida, os sinceros entre eles foram uma luz para as nações circunvizinhas. Por meio deles foi Deus revelado ao mundo. De Daniel e seus companheiros em Babilônia, e de Mardoqueu na Pérsia, brilharam raios de luz por entre as trevas das cortes reais. Semelhantemente os discípulos de Cristo são colocados como portadores de luz no caminho para o Céu; por meio deles se manifestam ao mundo envolto na escuridão de um errôneo conceito de Deus, a misericórdia e a bondade do Pai. Vendo suas boas obras, outros são levados a glorificar o Pai celestial; pois se torna manifesto que há um Deus sobre o trono do Universo, Deus cujo caráter é digno de louvor e imitação. O divino amor brilhando no coração, a harmonia cristã manifestada na vida, são quais vislumbres do Céu concedidos aos homens no mundo, a fim de que lhes apreciem a excelência.
 É assim que os homens são levados a crer no “amor que Deus nos tem” (1João 4:16). Desse modo são purificados e transformados corações outrora pecaminosos e corrompidos, para serem apresentados “irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória” (Judas 24). As palavras do Salvador: “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5:14), indicam haver Ele confiado a Seus seguidores uma missão mundial. Nos dias de Cristo, o egoísmo, o orgulho e o preconceito haviam construído um alto muro de separação entre os indicados guardiões dos sagrados oráculos e qualquer outra nação do globo. Mas o Salvador viera mudar tudo isto. As palavras que o povo Lhe estava ouvindo dos lábios eram diversas de tudo quanto sempre tinham ouvido dos sacerdotes e rabis. Cristo afasta a parede de separação, o amor-próprio, o separatista preconceito de nacionalidade, e ensina amor a toda a família humana. Ergue os homens do estreito círculo que lhes prescreve o egoísmo; elimina todos os limites territoriais e as convencionais distinções da sociedade. Não faz diferença entre vizinhos e estrangeiros, amigos e inimigos. Ele nos ensina a considerar a toda alma necessitada como nosso semelhante, e o mundo como o nosso campo.
 Como os raios do Sol penetram até aos mais afastados recantos do globo, assim designa Deus que a luz do evangelho se estenda a toda alma sobre a Terra. Se a igreja de Cristo estivesse cumprindo o desígnio de nosso Senhor, a luz se espargiria sobre todos quantos estão assentados nas trevas e na região da sombra da morte. Em vez de se congregarem e se eximirem às responsabilidades e a levar a cruz, os membros da igreja se espalhariam por todas as terras, irradiando a luz de Cristo, trabalhando como Ele fez pela salvação de almas, e este “evangelho do reino” seria velozmente levado a todo o mundo.
 É assim que o propósito de Deus ao chamar, desde Abraão na Mesopotâmia, até nós hoje em dia, tem de chegar a seu cumprimento. Ele diz: “Abençoar-te-ei, … e tu serás uma bênção” (Gênesis 12:2). As palavras de Cristo por intermédio do profeta evangélico, e de que o Sermão do Monte não é senão um eco, dirigem-se a nós, nesta última geração. “Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti” (Isaías 60:1). Se a glória do Senhor nasceu sobre vosso espírito; se tendes contemplado a beleza daquele que “traz a bandeira entre dez mil” (Cantares 5:10), e que é “totalmente desejável” (Cantares 5:16), se vossa alma se tornou radiante em presença de Sua glória, são-vos dirigidas estas palavras do Mestre. Estivestes acaso com Cristo no monte da transfiguração? Há, na planície, almas escravizadas a Satanás; elas esperam a palavra de fé e oração que as vá libertar.
 Não somente devemos contemplar a glória de Cristo, mas também falar de Suas excelências. Isaías não só contemplou a glória de Cristo, mas também falou dEle. Enquanto Davi meditava, ardia o fogo; então falou com sua língua. Ao meditar no maravilhoso amor de Deus, não podia deixar de falar do que via e sentia. Quem pode pela fé contemplar o maravilhoso plano da redenção, a glória do unigênito Filho de Deus, e não falar disso? Quem pode contemplar o insondável amor que na morte de Cristo foi manifesto na cruz do Calvário, a fim de que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna – quem poderá contemplar isso e não ter palavras com que exaltar a glória do Salvador?
 “No Seu templo cada um diz: Glória!” (Salmos 29:9). O suave cantor de Israel louvou-O com a harpa, dizendo: “Falarei da magnificência gloriosa de Tua majestade e das Tuas obras maravilhosas. E se falará da força dos Teus feitos terríveis; e contarei a Tua grandeza” (Salmos 145:5 e 6).
 A cruz do Calvário deve ser exaltada perante o povo, a fim de que lhes absorva a mente e concentre os pensamentos. Então todas as faculdades espirituais serão acompanhadas de um poder divino que procede diretamente de Deus. Haverá então concentração das energias em genuíno trabalho pelo Mestre. Como agentes vivos para a iluminação da Terra os obreiros emitirão raios de luz para o mundo.
 Certamente Cristo aceita, de bom grado, todo agente humano que a Ele se entrega. Ele une o humano ao divino, a fim de poder comunicar ao mundo os mistérios do amor manifestado em carne. Acerca disto falemos, oremos e cantemos; difundamos a mensagem de Sua glória e prossigamos avante em direção às regiões de além.
 As provações suportadas com paciência, as bênçãos recebidas com gratidão, as tentações resistidas varonilmente, a mansidão, a bondade, misericórdia e amor manifestados habitualmente, são luzes que resplandecem no caráter, em contraste com as trevas do coração egoísta, em que nunca brilhou a luz da vida.



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